

Alentejo
Ventura personificou voto de protesto em Mourão
A votação de André Ventura nas presidenciais em Mourão (Évora), o concelho do país onde obteve a maior percentagem de votos, gerou surpresa na vila, mas diversos moradores consideram que personificou o protesto contra os políticos tradicionais.
“Fiquei surpreendida. Não esperávamos” esta votação, “mas é uma mais-valia aqui para este concelho, porque temos de mudar um pouco”, diz à agência Lusa Maria Nunes, de 50 anos, residente há muito na terra, apesar de ser natural de outro concelho alentejano.
Para esta moradora, que disse ter ido votar no domingo, mas não revelou em quem, André Ventura “diz as coisas com sinceridade, ao contrário do que acontece com outros políticos”, que “falam e fazem e depois não fazem”.
Em Mourão há “muito desemprego” e “a vila tem pouco desenvolvimento”, sendo que, com a pandemia de covid-19, “está tudo um pouco parado”, realça Maria Nunes, que refere que, com o candidato do Chega, talvez “as coisas mudassem”.
Num concelho que, a nível autárquico, é liderado pelo PS há quase 30 anos, os 33,64% de votos nas presidenciais granjeados por André Ventura, mesmo que signifiquem apenas 333 votos, colocaram-no logo atrás de Marcelo Rebelo de Sousa (40,71%, ou seja, 403 votos) na corrida eleitoral de domingo e bem à frente da candidata socialista Ana Gomes (16,77%, 166 votos).
Atrás ficaram João Ferreira, apoiado por PCP e Verdes (4,95%, 49 votos), Marisa Matias, do Bloco de Esquerda (2,32%, 23 votos), Vitorino Silva, do Reagir, Incluir e Reciclar (1,21%, 12 votos), e Tiago Mayan Gonçalves, da Iniciativa Liberal (0,40%, quatro votos).
No rescaldo das eleições presidenciais de domingo, em que só votaram 1.008 eleitores do concelho, do total de 2.162 inscritos (53,28% de abstenção), também Ana Santinha, de 55 anos, dá dois “dedos de conversa” sobre o resultado eleitoral.
“Isto foi mesmo uma coisa, uma bomba. Não sei o que aqui se passou”, ainda por cima porque “é uma terra que é PS”, afirma, atirando que para André Ventura ter a percentagem que teve os votos “tiveram de vir das duas partes”, da esquerda e da direita.
Nas ruas da vila alentejana não se vê um único cartaz alusivo ao candidato apoiado pelo Chega. São visíveis, isso sim, alguns do candidato João Ferreira e “outdoors” do PSD.
Com um aumento recente de casos de covid-19 na terra, estando inclusive a presidente e o vice-presidente da câmara em isolamento profilático devido à doença, e com o confinamento geral em curso, não se vê muita gente na rua.
Dos habitantes que se encontram, poucos querem falar aos jornalistas sobre o resultado das eleições e é raro alguém admitir que votou em André Ventura.
Esse não é o caso de Manuel Joaquim Ralo, de 73 anos, que alega estar “farto de palhaçada”, da parte de outros políticos, e escolheu Ventura por achar que este “tem uma ideia boa, igual ao Salazar”.
“Fui para o André Ventura, a ver se dá volta à página. Isto já está tudo aborrecido, está tudo chateado com esta gente”, afirma, frisando que gostaria que o “seu” candidato ainda tivesse tido maior votação: “Gostava que ele ganhasse”.
A comunidade de etnia cigana local, que conta com alguma centenas de pessoas, é outro dos argumentos do suposto protesto a que moradores aludem para explicar o resultado de Ventura em Mourão. Só que é falado à “boca pequena”, sem aceitarem dar a cara.
“Acho que as pessoas estão um bocadinho com receio das pessoas de etnia [cigana], acho que tem mais a ver por aí. Agora, explicação? Se calhar gostam de ouvir o que o senhor diz. O senhor fala bem”, arrisca Sandra Marques, funcionária de uma mercearia local, com Ana Santinha a complementar: “Há muitos ciganos, isso é verdade, mas também não fazem assim grande mal”.
Duas das residentes locais de etnia cigana, Débora Andrade e Maria do Rosário, têm a sua explicação na “ponta da língua”.
Segundo Débora, “há muito racismo em Mourão” e “aquilo que eles precisavam aqui no Alentejo” era do André Ventura: “Então, como tiveram o apoio do André Ventura, fizeram tudo isto”.
Já Maria do Rosário, que assume que foi votar Ana Gomes no domingo, tal como a sua amiga e “muitos” da sua etnia, desejou sorte a quem votou em Ventura e ao próprio dirigente: “Se ele pensa que tirava a comunidade cigana do país, que é uma coisa que não podem arrancar, pode ser que tenha mais sorte. Ai, que Deus os ajude”.
Marcelo Rebelo de Sousa, com o apoio do PSD e CDS, foi reeleito Presidente da República nas eleições de domingo, com 60,70% dos votos, segundo os resultados provisórios apurados em todas as 3.092 freguesias e quando faltava apurar três consulados.
Rita Ranhola – Lusa
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